Cedro reduz produção de índigo e aumenta a de coloridos

A decisão da companhia é uma reação ao descompasso do mercado interno que desde o final do ano passado enfrenta queda de consumo

 

Depois de um ciclo em que o índigo apareceu fortemente em todas as coleções de marcas do mundo todo, a venda do produto arrefeceu no Brasil a partir do final do ano passado. O saldo desse descompasso foi um cenário de oferta maior que a demanda e preços em declínio, agravado pela questão cambial. A desvalorização do real frente ao dólar beneficiou as importações e tornou as operações de exportação menos rentáveis. “O índigo não foi ao chão. Ele balançou e é o que está acontecendo”, avalia Fabiano Soares Nogueira, diretor executivo responsável pela área comercial da Cedro Cachoeira, uma das mais antigas tecelagens brasileiras – foi fundada em 1872 -, que produz índigo desde 1983. Mas como o jeanswear não é só o índigo, as empresas tratam de regular a oferta.

Foi o que fez a Cedro neste primeiro semestre. A companhia reduziu a produção de índigo e direcionou esforços para ampliar as vendas das outras linhas – coloridos, activewear (para confecção de roupas esportivas) e activework (roupas profissionais). Segundo Nogueira, o índigo representa 50% da produção da Cedro, a outra metade é composta por um mix entre as outras linhas. Ao segurar a produção de índigo, a empresa investe para aumentar as vendas especialmente da linha de coloridos.
Conta para essa reação com o movimento natural do mercado brasileiro, quando as coleções de verão incluem uma gama maior de modelos confeccionados em sarja, tecido considerado mais leve e propício ao calor da estação. “A partir de junho, começamos a entregar a produção do catálogo de verão 2007. Vamos até fevereiro vendendo verão”, informa o diretor.

Na linha 2007 dos coloridos da Cedro, os desbotáveis ganharam destaque assim como os fios com efeitos. “Estamos com uma linha enorme, mesmo assim, continuamos a investir no índigo. Não no aumento da produção, mas em variedade, qualidade e novidade”, reforça Nogueira. O catálogo para o inverno 2007 será lançado no próximo mês.

Vendas externas

Com a desaceleração do mercado interno, a saída seria aumentar o ritmo das exportações. Na Cedro, as vendas externas representam 20% de uma produção estimada atualmente em 40 mil toneladas de tecido. “Nós queremos mais. Temos metas estratégicas. O problema é que precisamos preservar a rentabilidade da empresa. Com o dólar fraco, é difícil de fazer resultado lá fora”, argumenta o diretor, que considera 30% de exportação uma margem saudável.

Também avalia que não seria difícil atingir essa participação dentro de condições mais adequadas. “Nós estamos vendendo basicamente para a América Latina. O Brasil vende pouquíssimo para os Estados Unidos; e pouco para a Europa, que são os maiores mercados do mundo. Se as portas estiverem abertas, é muito fácil aumentar as exportações para quem exporta, para quem é conhecido, para quem tem qualidade, o produto certo”, pondera Nogueira. “A plataforma brasileira de exportação é fantástica. O Brasil tem competência para fazer jeanswear, tem fábricas moderníssimas, mão-de-obra que não é exageradamente cara. O que o Brasil precisa são acordos bilaterais”, completa.

Resultados

De acordo com o balanço anual publicado, a receita operacional bruta da Cedro Cachoeira foi de R$ 435 milhões, em 2005, que representou queda de 10,5% sobre a receita do ano anterior, interrompendo um ciclo de crescimento desde 2001. Em termos de receita líquida, o recuo foi ligeiramente maior, 11,5%. Em 2005, a receita líquida foi de R$ 367,8 milhões, contra R$ 415,7 milhões.

Em compensação o lucro líquido cresceu 6,4%. No ano passado, a Cedro apurou ganhos de R$ 26,9 milhões, ante os R$ 25,2 milhões obtidos em 2004. A expectativa de investimento informada no balanço indica desembolso de R$ 24 milhões, em projetos envolvendo melhorias de qualidade.