Com a alta do dólar, grandes confecções requalificam fornecedores para dependerem ainda menos do mercado externo, deixando as compras no exterior para itens muito específicos.
Com a alta do dólar, as empresas brasileiras começaram a substituir alguns insumos importados por nacionais. A Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção) estima que em torno de US$ 500 milhões do montante importado poderá ser nacionalizado em curto e médio prazo. Não só em razão do câmbio, como também pela desaceleração do varejo, já houve uma diminuição das importações nos últimos meses.
O grupo Cativa, de Pomerode, Santa Catarina, dono de cinco marcas, redobrou a atenção na seleção dos fornecedores de tecidos buscando melhores custos. Apenas 40% da matéria prima – como tecidos fluidos, acetinados e viscose – são importados. “Nos últimos meses, trouxemos mais fornecedores nacionais para participar da nossa rodada de cotações”, afirma a diretora comercial da Cativa, Catia Maria Sprung. A empresa atende principalmente pequenas e médias lojas multimarcas que não são abastecidas pelos importados.
“Se as grandes redes passarem a comprar das pequenas e médias confecções, substituindo os importados chineses, vai haver ainda mais pressão sobre os preços. Em 2016, deve haver uma depuração do varejo, com sobrevivência apenas dos mais fortes”, prevê Catia. Para ela, as multimarcas já estão comprando menos, por muitos motivos, e a alta do dólar é apenas uma delas. “As empresas não estão fazendo estoques e cortando fornecedores”, aponta. Com essa conjuntura, segundo Cátia, a estimativa é uma queda de 14% nas vendas comparado a 2014. O grupo tem 11 lojas próprias de varejo, trabalha com multimarcas e comércio eletrônico.
A empresa criou estratégias de segmentação e aumentou a força de vendas para alcançar outros mercados no país. Já prevendo que o consumidor das classes A e B vai comprar menos roupas no exterior, a Cativa está se preparando para esse movimento. “Para atender as expectativas desse público, vamos lançar uma linha mais elaborada”, anuncia Catia.
Na Ufo Way, fornecedor de serviços de private label (PL), também de Santa Catarina, a matéria prima importada representa menos de 5% das compras. “As tecelagens nacionais oferecem grandes oportunidades de negócios. Isso (comprar fora) só faria necessário caso tivéssemos deficiência no fornecimento em alguma área na qual trabalhamos”, diz Grasiela. Segundo a executiva, a empresa adquire no mercado nacional tecidos similares aos importados, sendo que os custos com a alta do dólar são absorvidos pelos clientes da Ufo Way. “A importação para o segundo semestre já estava fechada e não foi necessário cancelar essa programação”, afirma. Com a turbulência política e econômica, as encomendas são definidas mês a mês, e o mercado vai reagindo à emissão de pedidos. “Não há garantia real de compras e as empresas vão administrando o dia a dia, pedido a pedido, acompanhando o movimento dos clientes nas lojas”, afirma Grasiela.
Pedidos sem programação
A YKZ, indústria de moda infanto-juvenil e uniformes profissionais, também depende pouco do mercado externo. De acordo com o diretor proprietário, Roberto Yokomizo, a política da empresa privilegia fornecedores nacionais para ter segurança nos prazos de entrega e recebimento dos produtos. A empresa compra de fabricantes nacionais de denim, importando apenas algumas gramaturas para produtos específicos, diz Yokomizo. “O mercado está retraído e todos estão comprando apenas o estritamente necessário. Antes tínhamos uma programação de pedidos de longo prazo. Hoje eles são em maior número, mas chegam de forma diluída”, explica. De acordo com ele, compras são feitas em cima da hora, sem programação, atrapalhando a produtividade. “Estamos repensando a produção e mudando nossa estratégia para o just in time em consonância com todos os nossos fornecedores, e mais atentos ao pedido da loja que fica na ponta”, diz Yokomizo.