Representantes do setor apontam risco elevado, agravado pela queda de receita devido à paralisação das atividades pela covid-19.
Ainda que vários estados tenham iniciado a flexibilização do isolamento, eram onze até a semana passada, a indústria teme o fantasma da inadimplência sobre o caixa das empresas. Em live realizada pela Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), representantes do setor paulista levantaram a questão em tom de preocupação. Leonardo Sant’ana, presidente do Sinditec Americana, foi um deles. Ele destacou que a região é uma das maiores produtoras de denim do país e que opera, como é comum no segmento, com prazos de pagamento alongados.
Acrescentou que com o comércio parado, as empresas têm enfrentado uma onda de pedidos cancelados ou postergados. “E o caixa das empresas não agüenta isso”, afirmou. Lembrou que os empresários da região se uniram em um movimento de abertura consciente do comércio que vem se espalhando por outras partes do país, de forma a atenuar o cenário.
Para Luiz Arthur Pacheco, presidente do Sinditêxtil-SP, os altos níveis de inadimplência registrados pelas indústrias causa grande apreensão. E que se agrava porque o crédito não está chegando às pequenas e médias empresas que compram dessa indústria. “E quando esses pequenos não conseguem pagar nossas indústrias, vai dar um efeito bola de neve”, afirmou. A avaliação é de que ainda que o comércio reabra não terá a mesma dinâmica. “Se não tiver irrigação financeira, o rombo será maior”, disse.
Paulo Schoueri, presidente do Sietex/SP que reúne fabricantes de especialidades têxteis que vão de aviamentos, como elásticos, a bancos de automóveis, a inadimplência entre os associados alcançou 40% na quarta semana de isolamento. Situação agravada pela queda de faturamento entre 70% e 90%. “Dar crédito será algo complicadíssimo”, considera o empresário.
INVERNO ATRASADO PODE AJUDAR AS VENDAS
Antonio Trombeta, presidente do Sindivestuário da região do Grande ABC, aponta que já se detecta um agravante adicional. “Têm alguns do comércio que não querem voltar para o mercado porque temem queimar todos os cartuchos”, disse na live. Isso porque o varejo teme o consumo fraco nesse início de retomada.
Paola Reginato, presidente da Fitemasul, de Caxias do Sul, que representa fiações, tecelagens, e malharias (principalmente as de tricô), a preocupação procede. Segundo ela, desde o dia 23 começou a reabertura do comércio na serra gaúcha. “Não tem pedidos, nem consumo”, resumiu. Para ela, o consumidor que voltou a circular está evitando gastar por temer o desemprego. Paola defende prorrogação da medida 936, que trata da suspensão temporária ou redução de jornada e salário, por mais 30 dias. Atualmente, a medida vigora por 60 dias.
Silvio Colombo, presidente do Sivergs, de Porto Alegre, lembrou, porém, que a adesão à essa medida provisória terá um custo. Ele lembra que as empresas não poderão demitir pelo mesmo prazo que usaram.
Sobre o início da flexibilização no Rio Grande do Sul, que deixou de fora a capital e região metropolitana, ele se mostra otimista com o inverno atrasado. “O inverno ainda não bateu no varejo”, disse. Na visão dele, quando isso ocorrer, o movimento tende a salvar as vendas das coleções da estação. O raciocínio pressupõe que os lojistas retomariam pedidos cancelados. Colombo considera, ainda, um componente psicológico de que haverá um “consumo compensatório” depois da quarentena.