A produção escoada em feiras da região exibe força econômica, que não está acompanhada de medidas para suavizar os impactos ambientais e sociais
O mito da Sulanca começou na década de 1960, quando costureiras de Santa Cruz do Capibaribe recolhiam retalhos de tecido para fazer colchas e depois shorts para criança. Diz a lenda que os caminhoneiros que retornavam do sul, enchiam a carroceria de retalhos. Talvez não fosse apenas helanca que os caminhoneiros traziam. Mas, com certeza, o tecido constituía a maioria dos retalhos porque eram os anos 1960 e as camisas Volta ao Mundo e os conjuntos de Banlon para mulheres e meninas eram um sucesso no guarda-roupa dos brasileiros de então.
O produto da sobra eram mercadorias geralmente muito baratas e sem nenhuma qualidade, vendidas nas feiras da Sulanca. Pejorativo, quase um estigma, o termo Sulanca tem duas versões de origem. Alguns dizem ser uma referência da helanca que vinha do sul. Outros relatam tratar-se de uma corruptela de “é só helanca”, para vender e para comprar.
As feiras da Sulanca ainda funcionam, mas a região quer transformar a imagem negativa associada ao comércio de produtos de baixa ou nenhuma qualidade para o símbolo do empreendedorismo e da força de renovação do Agreste Pernambucano, que construiu um pólo de confecção à margem do poder público. As feiras movimentam muito dinheiro e ajudam a irrigar a economia da região, que atravessa uma fase de forte desenvolvimento. A uma velocidade bem maior do que a infraestrutura e a política pública possam acompanhar para amenizar os impactos ambientais e sociais da atividade.
foto: divulgação