À frente do projeto, Francisca Vieira, da Natural Cotton Color, negocia avanço da produção com grupos de moda internacionais.
Em meados do mês, a Natural Cotton Color mostrou uma cápsula de sete modelos confeccionados com denim feito de algodão colorido e orgânico. O lançamento atraiu a atenção de dois grupos internacionais de moda, com atuação também no Brasil. Com eles, Francisca Vieira, que está à frente do projeto, quer negociar investimentos para a expansão da produção. Tem em reserva 2 mil metros de denim de algodão colorido e orgânico para pilotagem.
Se fechar com um dos dois grupos, ela garante que não haverá risco de continuidade da produção por insuficiência de fibra. “Algodão colorido não falta. O que falta é dinheiro para plantar”, diz a empresária, uma liderança na produção de algodão colorido no país. Segundo ela, o campo está bem estruturado, tem algodão certificado. O que faltaria é impulso para que a Paraíba recupere a posição de destaque que teve na década de 1970, quando produzia algodão de fibras longas. Para proteger a iniciativa pioneira, de denim de algodão colorido, Francisca requereu patente para o produto. O INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) concedeu a proteção provisória de um ano até que a análise seja concluída, garante.
Com apoio financeiro da parceria em negociação, pretende requerer patente também em outros mercados, como Estados Unidos, Europa, Ásia e Austrália. A cápsula lançada é fruto de um projeto de dois anos, que consumiu em torno de R$ 400 mil. E envolveu a participação do Instituto Senai de Tecnologia Têxtil e Confecção da Paraíba. Os laboratórios do centro de pesquisa, localizado em João Pessoa, responderam pela fiação e produção do tecido, por meio de um edital de inovação.
Conforme Francisca, uma indústria de São Paulo demonstrou interesse em ser o parceiro industrial para bater o denim em maior quantidade.
DENIM SEM TINGIMENTO E MACIO
De acordo com Francisca, trata-se de um denim 100% orgânico, sem tingimento. “Só não é azul”, diz. Luís Sávio Pinheiro, gerente de tecnologia do instituto, conta que foi usado algodão colorido, da variante rubi, que deixa um tom amarronzado, com uma variedade de tom mais claro, Jade, na trama. Para mostrar as possibilidades do tecido, foram lançados sete modelos: dois de calça (um feminino, outro masculino); uma jaqueta feminina; saia; vestido; e dois de blazer (um feminino, outro masculino). Todos também confeccionados no Instituto Senai.
É um denim sem elastano. Pinheiro conta que o algodão colorido com o qual trabalhou é de fibra mais curta que do convencional. Mas que o tecido apresenta toque extremamente macio inclusive no avesso que fica em contato com a pele. A empresária explica que a suavidade se deve ao tipo de acabamento empregado. Foi combinada mistura de água quente com amaciante à base do óleo extraído da semente do próprio algodão.
PRODUÇÃO PEQUENA
Reportagem sobre o novo tecido publicada pela Embrapa Algodão, da Paraíba, informa que o estado tem 293 hectares plantados em 2019 e 391 toneladas de algodão em rama. “Isso representa apenas 140 toneladas de pluma pronta para a fiação”, declarou na reportagem Gilvan Ramos, socioeconomista da unidade. Ele conta que os maiores produtores de algodão colorido no mundo são China e Estados Unidos.
No Brasil, a produção está a cargo de pequenos agricultores em cultivo manual. Na Paraíba, todos plantam e colhem ao mesmo tempo, explica Pinheiro, do Instituto Senai de Tecnologia Têxtil e Confecção. Ao final da colheita, os produtores limpam o solo, retirando todos os resquícios da planta. “E ficam sem plantar de 60 a 80 dias, prazo para que todas as pragas morram naturalmente”, comenta o gerente.