Estudo global liderado por especialistas propõe padrão para medir uso hídrico no tingimento com índigo

Em iniciativa inédita, o Indigo Council da Transformers Foundation mergulhou nas operações de sete fábricas de denim para mapear o consumo real de água em um dos estágios mais críticos da produção: o tingimento com índigo. O resultado é um estudo técnico e auditável que propõe padrões confiáveis para a indústria. Durante décadas, a indústria operou sem um padrão confiável para medir o uso de água no tingimento com índigo — o que gerou uma enxurrada de alegações não verificáveis, inconsistência de dados entre fornecedores e pouca responsabilização ambiental.
Conforme a Transformers Foundation, a régua baseada em dados reais permitiria medir o verdadeiro consumo hídrico do tingimento com índigo e desarmar, assim, o greenwashing na indústria global do jeans. Também antecipa exigências legais de transparência ambiental que começam a vigorar na Europa e em outras regiões.
Os resultados serão discutidos em um webinar ao vivo, na próxima semana, no dia 31 de julho. De acordo com a fundação, durante o evento os especialistas irão detalhar a metodologia empregada, descobertas e os próximos passos rumo a um denim com mais responsabilidade ambiental.
Do estudo participaram sete fabricantes de denim – como Candiani (Itália); Orta Anadolu (Turquia); Soorty, Crescent Bahuman, Naveena, Diamond Denim (Paquistão); e Advance Denim (China). Além de dois fabricantes de equipamentos – a Morrison Textile Machinery e a Karl Mayer – e a certificadora Bluesign.
RÉGUA HÍDRICA
Ao divulgar o estudo, a fundação disse esperar que esses dados sirvam como referência global para determinar o consumo de água do setor de denim que, anualmente, produz até 5 bilhões de peças jeans. A urgência em abordar a questão é reforçada por mudanças regulatórias como a Diretiva de Declarações Verdes da União Europeia e o Código de Declarações Verdes do Reino Unido, que já enquadram declarações ambientais vagas como práticas ilegais de marketing. Além disso, o relatório chama atenção para fatores externos de pressão, como escassez hídrica e aumento nos custos operacionais, que vêm motivando a adoção de boas práticas em algumas regiões.
Nessa pesquisa, a equipe focou na etapa mais crítica de lavagem pós-tingimento, onde se concentra o maior uso de água fresca. Mesmo com os avanços tecnológicos, há grande variação entre as práticas adotadas, aponta o estudo. Enquanto algumas fábricas utilizam sistemas automatizados de controle hídrico, outras ainda dependem de ajustes manuais — o que compromete a precisão dos dados e a eficiência do processo, completa o documento.
A ausência de um protocolo comum também dificultava a comparação entre fornecedores. Ao definir o que é consumo típico, excessivo e o melhor da categoria, a nova regra hídrica dá um passo decisivo para corrigir essa lacuna, avalia a Transformers Foundation. Para análise, o estudo considerou dois processos de tingimento.
:: No rope dyeing, o consumo na lavagem final pode chegar a 20 litros de água por quilo de fio.
:: Já no slasher dyeing varia entre 10 litros e 15 litros de água por quilo.
A eficiência de tingimento também varia, impactando a quantidade de corante que se perde e precisa ser removida na lavagem. “Os dados mostram que as tecnologias certas e o investimento em automação fazem diferença real. O problema é que nem todos os fornecedores operam com o mesmo grau de controle e transparência”, destaca o relatório.
PRÓXIMOS PASSOS
Apesar do avanço, o relatório alerta que o estudo não cobre o ciclo completo do tingimento, mas representa um avanço para o cálculo da pegada hídrica do jeans. Faltam dados laboratoriais sobre quanto do índigo de fato se fixa na fibra e qual a porcentagem de água que pode ser tratada e reutilizada, observa. Essa será a próxima etapa da investigação, assegura.
foto: criada com ferramenta de IA para ilustração