No último ano grandes redes fizeram maior pressão sobre confecções e lavanderias para adequarem-se às normas trabalhistas e ambientais.
As grandes redes associadas à Associação Brasileira do Varejo Têxtil (ABVTEX) cerraram fileiras para que seus fornecedores – entre confecções e lavanderias – sejam certificados com selo de qualidade. Com isso, a partir do final do ano passado, cresceu a procura pela homologação. Lançado há três anos, o selo da ABVTEX conta com 5,2 mil empresas certificadas e outras 1,6 mil têm planos de ação em andamento. “Em função dos problemas ocorridos com o trabalho análogo ao escravo o programa se popularizou no ano passado com o aumento do número de homologações”, afirma José Luiz Cunha, diretor executivo da ABVTEX. A entidade reúne 17 grandes varejistas do país cujo faturamento somou R$ 170 bilhões no ano passado.
O selo alcança principalmente as confecções e lavanderias, contratadas e subcontratadas que abastecem o varejo, pois as indústrias de tecido e matéria prima têm seus próprios programas. “Hoje existem em torno de 32 mil confecções no país e os planos da entidade é certificar o maior número possível”, diz Cunha. Para participar, os fornecedores devem assinar um termo de adesão concordando com uma auditoria e arcar com os custos de contratação dos organismos certificadores.
A lavanderia Santo André, de Macaíba, no Rio Grande do Norte, por exemplo, certificou-se com o selo da ABVTEX no ano passado por exigência de um de seus clientes. “No nosso caso não foi preciso fazer grandes mudanças, pois construímos uma nova planta que já levou em conta as mudanças ambientais e técnicas exigidas pela entidade”, afirma o proprietário, Daniel Barbosa. A lavanderia, que tem entre seus clientes a Hering, mudou-se para uma nova área que começou a ser construída em fevereiro de 2013 tem capacidade de processar 30 mil peças por dia. A empresa reaproveita água, usa energia de gás natural e tem iluminação com lâmpadas LED.
Em outra frente a Associação Nacional de Empresas de Lavanderia (Anel) e o Sindicato Intermunicipal de Lavanderias (Sindilav) também lançaram há três anos o Selo de Qualidade e Sustentabilidade (SQS) que, no entanto, teve apenas sete adesões até agora. “Muitas empresas preferem se adequar à ISO 14.000 que é mais abrangente e não investem em selos específicos”, afirma Maria Ramos, diretora técnica da Anel. Segundo ela, o selo representa uma mudança cultural para o setor e seu processo de divulgação e assimilação é lento.
Para convencer os associados, a entidade está se organizando para montar uma lavanderia modelo, com todos os certificados, que servirá de vitrine para o setor. De acordo com Marco Britto, vice-presidente da Anel e diretor da lavanderia GB Customização, no último ano aumentou a exigência dos associados da ABVTEX para que seus fornecedores, diretos e subcontratados, sejam certificados, fazendo com que o selo da Anel fique em segundo plano. “Temos interesse em ganhar esse selo, mas falta divulgação para empresas que ficam fora do eixo de São Paulo”, diz Barbosa, da lavanderia Santo André.
Com quatro unidades, a GB Customização conta com uma lavanderia certificada pela ABVTEX e três em processo de homologação. “O procedimento não é simples, o custo da consultoria é alto e as exigências modificam processos internos de gestão”, afirma o executivo. Esses empecilhos têm retardado a busca do selo pelas lavanderias, na opinião de André Duarte, proprietário da Qualidade, de Santana do Parnaíba, na grande São Paulo. “Temos todas as licenças ambientais exigidas pela prefeitura, mas não as certificações”, diz Duarte. A empresa conta com clientes atacadistas e não trabalha para grandes redes. Uma das preocupações do setor, segundo o executivo, é manter a agilidade e não engessar a gestão. “As lavanderias produzem em grande volume em 3D, por exemplo. De repente o mercado muda e a produção tem que se adequar rapidamente sem ficar amarrada a controles burocráticos. As certificações são importantes, mas não podem tirar o foco do negócio”, diz.
Para ele o setor de lavanderias é muito visado pelos órgãos governamentais em detrimento de outras unidades poluidoras. “Vivemos uma situação de fachada. Para poder funcionar as lavanderias fazem tratamento de efluentes e devolvem água tratada para a natureza, melhor do que foi coletada, gerando benefícios. No entanto grandes condomínios verticais, com muitos apartamentos, poluem a água com óleo, sabão em pó e produtos de limpeza sem contrapartidas ou exigências”, afirma.