Com venda em loja de varejo e ecommerce, a etiqueta carioca pretende montar um canal de atacado para sua linha de produtos.
Ao entrar no ano dois da marca, a carioca Eze Denim busca parceiros comerciais interessados em moda sustentável. Montar um canal de atacado com multimarcas para esse tipo de produto não é fácil, reconhece Cláudia Schiessl, idealizadora da marca. Com custos maiores que os convencionais, a Eze cede margem de lucro para ter preço competitivo na ponta. Uma calça flare de cintura alta custa R$ 289 para o consumidor, não muito diferente do cobrado na faixa intermediária do mercado de jeans. E é essa estratégia que tem feito girar os lançamentos.
A loja multimarcas também terá que fazer novas contas se tiver interesse em disputar um novo segmento de mercado, avalia Cláudia. Para lançar a marca, a Eze Denim começou com uma loja física instalada na Galeria Ipanema 2000, na rua Visconde de Pirajá, point famoso de moda carioca. Com o ecommerce, também próprio, atende outras partes do Brasil.
A produção da Eze Denim é própria, menos a parte de lavanderia, entregue a um fornecedor do Rio de Janeiro. Segundo Cláudia, para os efeitos não são empregados produtos químicos abrasivos, como cloro ou permanganato. Os desgastes e corrosões são feitos por equipamento a laser. O amaciamento emprega extratos naturais e o corante usado para o tingimento de sarjas, liocel e malhas deriva de base vegetal como romãs, catuaba e erva mate.
Para a confecção das peças, a opção é pelo denim produzido com resíduos têxteis de dois fabricantes nacionais, conta Cláudia. Na fábrica, os resíduos têxteis são transformados e viram acessórios para casa como cachepôs, almofadas, entre outros itens comercializados na loja.
Não trabalha por coleção. São feitas produções pequenas. E se o consumidor quiser, a Eze também produz sob demanda.
EXPERIÊNCIA APLICADA
Cláudia não é novata no mundo do denim. Só na Equatore, antiga marca de jeans feminino do Rio, ficou 15 anos. Saiu de lá em 2008. E dois anos depois comprou máquinas da empresa, de costura e corte, e montou a Best Denim que atua até hoje como PL, fazendo jeans para adultos e crianças para marcas do Rio. Foi dessa experiência que a Eze foi concebida.
“Em 2014 me deparei com um estoque de sobras de peças prontas rejeitadas pelos clientes. A primeira coisa que fiz foi propor se eles não queriam comprar barato e colocar em liquidação. Não quiseram. Outra opção seria incinerar as peças, que eu não queria fazer. E alguns clientes sugeriram que tirasse a etiqueta e vendesse”, lembra Cláudia.
A empresa deu um passo adiante e fez uma espécie de upcycling. “Decidimos não só retirar as etiquetas mas descaracterizar as peças com outras intervenções, como tirar gola de camisas e botões; cortar o cós dos shorts e colocar apliques”, explica a empresária. Para comercializar as novas peças, adotou a marca Eze Denim. O nome Eze, que é o mesmo ainda que lido de trás para frente, se refere a uma pequena província dos Alpes Marítimos na França.
No período, a empresa havia acumulado 4 mil peças de sobras, entre peças recusadas pelos clientes e modelos cujo desenvolvimento não deslanchou. Com o primeiro lote alterado, a empresa participou de uma edição da Babilonia Feira Hype. Com boas vendas, participou de mais cinco edições do evento. E nesse tempo abriu uma loja pop up em Icaraí.
SUSTENTABILIDADE COM DESIGN
O bom desempenho das vendas levou Cláudia a desenhar um novo caminho para marca, considerando o desenvolvimento original do jeans, a incorporação de elementos de moda e foco na modelagem. “De modo que mesmo que não fosse sustentável o produto atrai; e o cliente compra porque a peça é bonita”, resume. Nesse meio tempo, ela também estudou técnicas de extração de corantes e tingimento natural que permitissem produção em escala. Atualmente, 80% dos modelos da Eze correspondem a peças jeans e outros 20% a malha.
Voltou com a Eze no ano passado, baseada em seis fundamentos. Cada produto tem que atender a pelo menos quatro deles para ser lançado, explica Cláudia. Usar matéria-prima ecológica (denim fabricado com resíduos têxteis na composição, liocel, fibras naturais, algodão BCI) é o primeiro deles. Lavanderia sem química abrasiva; economia de água em toda a produção; comércio justo para todos os agentes envolvidos; percentual das vendas destinado a uma causa ambiental; e tingimento natural para sarja, liocel e malha.