Experiências de C&A, Ufo Way e Cedro mostram empresas se adaptando aos novos tempos no mercado brasileiro
Com os avanços da tecnologia digital, a Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção) realizou um congresso a semana passada para tratar os impactos do novo cenário sobre a mão-de-obra; da importância de qualificar e reter talentos nas empresas. A chamada indústria 4.0 não tem a ver apenas com chão-de-fábrica e a robotização de tarefas que tanto assusta. Na indústria da moda, entre os desafios que se avizinha está por exemplo o da capacidade de ‘customização em massa’. Esse passo depende de tecnologia para identificar os desejos de consumo em detalhes e de processos industriais modernos que ofereçam flexibilidade de produção.
C&A DERRUBA LEAD TIME PARA 30 DIAS
A pressão sobre a indústria começa a ser exercida também pelo grande varejo e na ponta pelo consumidor. Das vendas online realizadas pela C&A no Brasil, cerca de 25% dos pedidos já são entregues nas lojas físicas, disse Paulo Correa, CEO da rede varejista no país, em sua palestra durante a terceira edição do Congresso Internacional, organizado pela Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), nos dias 17 e 18 de outubro, na capital paulista. De acordo com o executivo, o esforço de integrar o mundo físico e o online é crítico.
Em paralelo, a varejista investe para chegar mais rápido ao consumidor. Correa conta que em 2018 começou uma experiência de lançamentos de cápsulas com prazo de desenvolvimento muito encurtado. Para esses pequenos lançamentos, o período entre criar as peças e elas estarem disponíveis nas lojas é de 30 dias, contra os 120 dias no processo atual. “Isso não se consegue se não tiver proximidade com os nossos fornecedores”, afirma o executivo, como exemplo da necessidade de adoção de tecnologia em todos os níveis. Ele explica que essas cápsulas são definidas a partir das observações de moda nas ruas.
INVESTIMENTOS EM QUALIFICAÇÃO
Mais que a indústria têxtil, são as confecções que mais dependem das pessoas para agregar valor ao vestuário, aponta Fernando Pimentel, presidente executivo da Abit. Ele reconhece que os avanços tendem a ser gradativos. “Como o Brasil é um país de custo alto, a implantação dessas tecnologias disruptivas representam também um risco maior”, disse ele em entrevista ao GBLjeans. Pimentel lembrou que a indústria 4.0 não está restrita às fábricas, e que se estende à inteligência de negócios, como análise de dados e estudos preditivo que ajudem nas vendas.
“Diante desses desafios e das transformações do mundo será fundamentalmente com o talento humano que conseguiremos atingir os melhores patamares de desenvolvimento inclusivo e sustentável que nosso setor e o país merecem”, disse Pimentel, no discurso de abertura do evento, destacando a importância dos investimentos constantes em qualificação da mão-de-obra.
RETER TALENTOS
“A Ufo nunca quis ser a maior, mas ser uma referência entre as melhores e isso nós conseguimos, com pessoas engajadas, que entendem e conhecem os nossos desafios, e proporcionando um ambiente de trabalho inspirador e feliz”, afirmou Grasiela Moretto, diretora da Ufo Way, uma das maiores empresas de PL de jeans do Brasil, em palestra sobre o Desafio de Atrair e Reter Talentos. Atualmente, a empresa que está no mercado desde 1992 tem 800 colaboradores diretos e recebe 500 currículos por semana de pessoas da região interessadas em trabalhar ali, conta Grasiela.
Segundo a empresária, o turn over não ultrapassa os 3,5% e poderia ser menor, não fosse a política da empresa de reciclar anualmente o quadro de funcionários, analisando o desempenho de cada um. O percentual de absenteísmo (faltas no trabalho) foi de 2,8% em setembro de 2018, informa.
Para a área de RH, a Ufo Way recorre a um sistema de gestão baseado na figura de uma mandala de nove pontos, que envolvem escola infantil, social, integração, celebra, comunicação, desenvolvimento, reconhecimento, cuida (saúde) e segurança. Entre as ações, Grasiela destca a escola Alinhavando o Futuro, inaugurada em dezembro de 2015 destinada a filhos de funcionários com idade de zero a cinco anos, construída ao lado da fábrica e administrada pela própria empresa. Na parte social, ela conta que a iniciativa do ano foi a ação O seu sonho de vida, a Ufo realiza. O desejo escolhido foi o de uma funcionária que teve a casa inteiramente refeita, entregue pronta e mobiliada em setembro.
O parque industrial da Ufo Way tem 17 mil metros quadrados de área construída na cidade de Criciúma, em Santa Catarina, de onde saem em média 300 mil peças por mês.
IDEIAS INCENTIVADAS E ACEITAS
Também o turn over da Cedro Têxtil é baixo. Não passa de 2%, afirma Paula Pizzani, gerente de DHO (Desenvolvimento Humano Organizacional) do fabricante mineiro de denim e sarja, que produz tecidos para moda e para roupas profissionais. Atualmente, a companhia controla quatro fábricas e emprega 3,5 mil colaboradores, 70% dos quais trabalhando na área operacional. Uma das medidas de incentivo e retenção de talentos, diz Paula, é a estratégia da empresa de implementar as melhores ideias sugeridas por funcionários. Em oito anos, de 2010 a 2018, já foram adotadas 19,5 mil ideias.