Varejo de vestuário investe em novos processos mas derrapa na hora de atrair o consumidor

Entre muitos desafios, o varejo de vestuário tropeça na lacuna de que não tem sido bem-sucedido em levar sustentabilidade até a vitrine do mundo real. Algumas marcas do setor investem em novos processos para desenvolver produtos baseados em processos que moderem o impacto ambiental causado pela atividade. No entanto, sem uma estratégia clara de exposição, a maioria desperdiça
esse esforço no ponto de venda.“Não adianta ter um storytelling forte na base, ‘marquetear’ em rede social e quando chega na ponta não consegue tangibilizar”, afirma Camila Salek, especialista em varejo e fundadora da Vimer Retail Experience, em entrevista exclusiva ao GBLjeans.
O caminho para o novo modelo envolve inteligência de merchandising, de forma a criar o que a especialista chama de “ponto de contato físico” que atraia o consumidor até o produto lançado, como corners identificados. Tem a ver com arrumação de produto. “Se eu sei que dentro da minha coleção vou ter 20% de produtos sustentáveis, que foram desenvolvidos com uma nova lógica dentro da minha marca, a pessoa responsável por dar a cara desse produto na loja precisa trabalhar essa exposição de modo que a contação de história continue”, sugere.
Ela cita uma estratégia da Nike para destacar um modelo de tênis feito com material produzido a partir de plástico descartado. Na ambientação da loja, um fio de plástico conectava o tênis a uma garrafa pet. “É claro o processo é mais complexo. Mas é mais fácil para o consumidor entender que aquele tênis tirou 45 garrafas do lixo” pondera.
INTERVENÇÃO NAS LOJAS
Camila salienta que tem outro aspecto importante a considerar para levar a sustentabilidade até a vitrine. “Não adianta a marca fazer um trabalho muito sustentável, se debruçar sobre um desenvolvimento sustentável (às vezes leva anos para conseguir matéria-prima de qualidade, cadeia produtiva que vai poluir menos) e abrir uma loja aonde tem zero de preocupação em relação a isso”, aponta.
A sustentabilidade até a vitrine passa por novos projetos de lojas, mais flexíveis na concepção, versáteis e, portanto, mais duradouros. “Não dá para pensar em destruir tudo e reconstruir tudo a cada sete anos como no passado. A base de um pensamento sustentável é pensar que vai investir em algo por mais tempo”, argumenta a especialista.
A circularidade também se estende ao ponto de venda e representa um desafio que o varejo começa a discutir, por exemplo, de como reutilizar adesivos de vitrine, materiais de ativação e de comunicação, tags e banners que costumam ir para o lixo ao final da campanha.
“As marcas com as quais a gente trabalha que são de grandes grupos se preocuparam muito em evoluir em questões de desenvolvimento de produtos e, agora, elas estão correndo atrás de conseguir aterrissar essas mensagens da melhor forma possível na ponta”, conta.
fotos: Camila Salek (divulgação) e capa (Unsplash)