Estudo propõe agenda para a cadeia da moda

Como em outros setores, produção responsável e desenvolvimento sustentável nesse mercado dependem de iniciativas privadas e de parcerias com governos, universidades e centros de pesquisas, diz Uniethos.

O Uniethos, organização criada pelo Instituto Ethos para desenvolver estudos, pesquisas e capacitação em responsabilidade social empresarial, concluiu uma análise do setor têxtil e de confecção no Brasil, cujos resultados começou a divulgar a partir de julho. Primeiro na capital paulista, em palestra na Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), e em meados do mês em Blumenau, em Santa Catarina. O estudo propõe uma agenda de sustentabilidade que envolve toda a cadeia da moda – do cultivo do algodão ao varejo de roupas, passando pela indústria têxtil e as confecções.

Defende que a moda verde deixe de ser um nicho de mercado, de forma que os conceitos socioambientais que a sustentam sejam estendidos e permeiem toda a cadeia. “Hoje a indústria de vestuário tem uma alta pegada de carbono, gerando emissões em todas as fases, da produção ao uso e descarte de produtos pelos consumidores”, afirma o relatório coordenado por Mariana Kohler Pereira, membro da rede de especialistas do Uniethos e sócia da Ibi Eté Consultoria. Da agenda de sustentatibilidade proposta pela entidade constam pontos como maior eficiência no uso da água, com técnicas de reúso, “na fabricação de produtos têxteis e de vestuário, no cultivo ou produção de matérias-primas e nas práticas de lavagem”.

Menor consumo de energia é outro ponto mencionado pelo relatório, assim como a redução ou eliminação do uso de matérias-primas tóxicas, menor quantidade de resíduos para descarte, entre outras medidas, antecipando-se a legislações restritivas que certamente virão. A agenda inclui aspectos sociais do trabalho nessa cadeia, ao propor a intensificação de cuidados com a saúde de consumidores e trabalhadores, além da promoção dos direitos trabalhistas.

Também reconhece os dilemas da indústria. Qualquer agenda de sustentabilidade e competitividade depende de relações comerciais estáveis entre empresas e fornecedores, favorecendo investimentos em novas tecnologias e qualificação profissional. Conciliar esse conceito com o modelo fast fashion é um desafio e tanto porque a velocidade de lançamentos e a flexibilidade exigida dificultam “o estabelecimento de relacionamento estável e de longo prazo que possibilite interação e troca constante de informações, além do planejamento da produção, elementos vitais para o desenvolvimento do negócio”, constata o relatório.

O estudo defende, ainda, medidas polêmicas, como reduzir a quantidade do que é produzido e, consequentemente do que é consumido. Argumenta que, em contrapartida, as inovações adicionariam qualidade aos artigos alongando a vida útil deles, inclusive, para facilitar a reciclagem de fibras e tecidos, convertidos em novos produtos. O estudo é extenso abordando a situação internacional, fatores de competitividade e exemplos de ações consideradas sustentáveis, como a decisão da Tavex de usar o acabamento natural Alsoft nos tecidos que produz, e o projeto Retalho Fashion, do Sinditêxtil (Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem), de São Paulo, que visa recolher resíduos têxteis de confecções e lojas do Bom Retiro, na capital.