Febratex Summit aborda ciência dos materiais

Febratex Summit abraça ciência dos materiais

Palestras do Citeve, de Portugal, e da britânica Pangaia, defendem desfossilização da moda.

Febratex Summit abraça ciência dos materiais

“O futuro têxtil é bio, sem dúvida”. Com essa afirmação, Braz Costa, diretor do Citeve, de Portugal, concluiu a palestra no Febratex Summit em que defendeu a ciência dos materiais como o caminho mais curto para a descarbonização da moda. Foi a palestra a encerrar a programação da arena principal no primeiro dia do evento, 23 de agosto. Na manhã do dia seguinte, Amanda Parkes abriu a programação tratando da experiência e desafios da marca Pangaia Materials Science, da qual é diretora de inovação.

Ambos afirmaram que a biodiversidade brasileira representa uma vantagem competitiva para a indústria de moda do país, mas que depende de investimentos em pesquisa. Para Costa, do Centro Tecnológico Têxtil e Vestuário (Citeve), o principal desafio da moda global é a desfossilização. É um processo que prevê eliminar o uso de fibras têxteis de origem fóssil e colocar no lugar biomateriais e materiais que permitam a circularidade, e que dependem fortemente da ciência dos materiais.

Mas ele entende também que fibras naturais precisam de solo e o mundo está no limite da disponibilidade de áreas cultiváveis, cuja prioridade de uso é para alimentar as pessoas.

BIOMATERIAIS

Portanto, a defesa dele é no sentido da pesquisa de novas fontes vegetais, citando o projeto de Portugal, para o qual foram destinados €140 milhões. Prevê investigar a aplicação de insumos alimentados pela natureza e disponíveis em diferentes regiões de Portugal para produzir fibras têxteis, como banana de Madeira, ananás dos Açores, cânhamo da região central, linho do norte do país ou palha de arroz encontrada no Alentejo.

Também passa por materiais alternativos como a caseína reutilizada, encontrada em derivados proteicos, como o leite.

Outra abordagem que o diretor do Citeve defende é a produção de biopoliéster ou biopoliamida a partir do lixo gerado nos grandes centros urbanos.

Em sua participação, Costa citou o EU Green Deal, um conjunto de regras com o objetivo de tornar a União Europeia o primeiro continente climaticamente neutro em 2050, cujos impactos passam pela estratégia de têxteis sustentáveis e circulares. São regras que valem para empresas dos países da União Europeia e para aquelas que querem vender a esse mercado. “Esse é o momento da viragem”, entende.

CASE DA PANGAIA

Fundada no Reino Unido em 2018, tendo crescido durante a pandemia, a Pangaia afirma que seu modelo de negócios trata de uma empresa “earth positive” a partir da ciência dos materiais. Para isso, investe em inovações de materiais aplicados em produtos da própria marca, hoje a maior fonte de receita, seja por meio de pesquisas internas como mediante a colaboração com outras empresas. Conta, ainda, como uma unidade de negócios que envolve a transferência de tecnologia da aplicação desses materiais para outras marcas, ainda uma fatia menor da receita.

Amanda Parkes citou exemplos de produtos da marca que chegaram ao mercado como o casaco de moletom com capuz, o modelo NXT Gen Hoodie, que ficou exposto na palestra. A peça foi fabricada com moletom produzido com a fibra de proteína cultivada em laboratório desenvolvida pela Spiber.

Ainda em colaboração, a executiva destaca o uso dos corantes da Colorfix criados a partir de bactérias vivas, ou da tinta de impressão da Air-Ink, obtida da captura de fumaça das fábricas, o que seria usar poluição para produzir tinta preta, cor que não existe na natureza. Menciona a também o lançamento da jaqueta produzida com materiais biossintéticos.

Entre os próximos passos está o projeto com a Twelve para cultivar couro em laboratório.

O Febratex Summit foi realizado nos dias 23 e 24 de agosto, em Blumenau, Santa Catarina.

foto: GBLjeans (roupas da Pangaia).