Relatório da Changing Markets Foundation aponta como 50 empresas globais alimentam a poluição por microplásticos.
Ao final da London Fashion Week, a Changing Markets Foundation anunciou o relatório apontando que aumenta cada vez mais o uso de tecidos poluentes na moda. E que as empresas pouco avançam no combate ao uso de fibras têxteis sintéticas de origem fóssil, como o poliéster, como agentes de poluição por microplásticos. Para essa afirmação, a entidade consultou 50 empresas globais de moda sobre a dependência em torno de roupas confeccionadas com tecidos produzidos a partir de fibras têxteis sintéticas consideradas poluentes.
Para o Fashion’s Plastic Paralysis Report – How brands resist change and fuel microplastic pollution, a Changing Markets Foundation selecionou 50 empresas globais de moda avaliadas, conjuntamente, em US$1 trilhão. Não são só redes de fast fashion. A seleção inclui marcas de moda de luxo, marcas de artigos esportivos e lojas de departamento.
Do total, apenas 23 empresas de moda responderam a pesquisa realizada pela Changing Markets Foundation em abril. O trabalho incluiu também busca por informações abertas, disponíveis nos websites das empresas.
Uma das constatações é que a moda aumenta cada vez mais a dependência por fibras sintéticas poluentes e piorando o impacto ambiental da atividade ao invés de reduzir essa participação. Fibras sintéticas derivadas de combustíveis fósseis se tornaram a escolha dominante tanto para a indústria da moda quanto para a indústria têxtil em geral, observa o relatório.
Dados da Textile Exchange, contidos no relatório mais recente, informam que o poliéster é a fibra têxtil mais produzida no mundo. Da produção de 112 milhões de toneladas de fibras têxteis em 2022, o poliéster corresponde a 63 milhões de toneladas, ou seja, 54% do total.
POLUIÇÃO AMBIENTAL
De acordo com a Changing Markets Foundation, a adesão da moda ao poliéster aumenta derivada de razões financeiras, uma vez que o quilo dessa fibra custaria metade do preço do quilo do algodão.
“No entanto, esse vício em sintéticos tem um alto custo ambiental, contribuindo significativamente para o desperdício e a poluição do plástico, ao mesmo tempo em que mantém a indústria da moda presa aos combustíveis fósseis”, conclui o relatório. A análise afirma que o poliéster tem a maior pegada climática do setor, respondendo por 125 milhões de toneladas de emissões de CO2e somente em 2022.
Para a organização, as empresas adiam decisões de combate à poluição citando a necessidade de mais estudos que confirmem o papel das fibras na liberação de microplásticos. Também repassam a responsabilidade para o consumidor recomendando a instalação de filtros na máquina de lavar para evitar que microplásticos das roupas cheguem à rede pública. Mas não apontam soluções para resolver de fato o problema.
O relatório critica ainda a mudança de poliéster virgem para reciclado como forma de lidar com a dependência de fibras sintéticas poluentes. “O poliéster reciclado, feito quase exclusivamente de garrafas plásticas (99%), interrompe o ciclo de reciclagem de garrafa para garrafa. As roupas produzidas a partir dessas garrafas não podem ser efetivamente recicladas de volta para o mesmo material de qualidade, devido às limitações nas tecnologias de reciclagem têxtil, e têm mais probabilidade de acabar em aterros sanitários ou ser incineradas”, afirma o relatório.
A PESQUISA
Para esse estudo, a Changing Markets Foundation trabalhou em parceria com a Clean Clothes Campaign, o Fashion Revolution, a No Plastic in My Sea e a Plastic Soup Foundation. O questionário solicitou divulgação sobre vários tópicos, incluindo o uso de fibras sintéticas, compromissos para eliminar fibras sintéticas, políticas para abordar a liberação de microfibras e a posição da empresa sobre elementos da legislação proposta na Estratégia Têxtil da União Europeia e sobre o tratado global em torno da poluição plástica. “Quando apropriado, marcas e varejistas foram classificados em quatro categorias: liderando a mudança; poderia fazer melhor; ficando para trás; e zona vermelha”, diz o relatório.
Relatório disponível para download. Clique.
50 EMPRESAS DE MODA
Ainda de acordo com as respostas obtidas, o relatório aponta que a holding Inditex, dona da Zara, seria a empresa que mais consome tecidos à base de fibras sintéticas consideradas poluentes. Em 2023, seria o equivalente a 212 mil toneladas de sintéticos no ano. Seria seguida pelas marcas do PVH, como Calvin Klein e Tommy Hilfiger, com consumo de 36 mil toneladas em 2023.
As 50 empresas de moda avaliadas pela pesquisa da Changing Markets Foundation, em ordem alfabética.
Abercrombie & Fitch |
Adidas |
ALDI |
ASDA – George Clothing |
ASICS |
ASOS |
Bonprix |
Boohoo |
Burberry |
C&A |
Dressmann |
Esprit |
G-Star RAW |
Gap Inc. |
Gildan |
H&M Group |
Hugo Boss |
Inditex |
Kering (Group level) |
Kirkland – Costco |
Levi Strauss & Co |
Lindex |
Lululemon |
LVMH |
Mango |
Marks & Spencer |
Monsoon |
Morrisons |
New Look |
Next |
Nike |
Oakley |
Patagonia |
Primark |
Puma |
PVH |
Reebok |
Reformation |
Sainsbury’s |
SHEIN |
Sweaty Betty |
Target |
Tesco |
Uniqlo (Fast Retailing) |
United Colors of Benetton (Benetton Group) |
Van Heusen |
VF Corp |
Walmart |
Wrangler (Kontoor) |
Zalando |