Iniciativa enxerga avanço porém encontra entraves para dar escala ao jeans circular.

Conduzido pela Ellen MacArthur Foundation, o Redesign Jeans faz balanço de dois anos da iniciativa. Conforme a entidade, foi atingido um dos principais compromissos do grupo inicial de colocar no mercado
430 mil calças de denim confeccionadas de acordo com o guideline de produção estabelecido até maio de 2021.Conforme o balanço, 80% dos participantes produziram denim ou jeans que atendem às diretrizes estipuladas. “Resultando em marcas que colocaram no mercado meio milhão de pares de jeans duráveis, rastreáveis, recicláveis e feitos com materiais e processos seguros”, informa a fundação.
O grupo inicial de 12 empresas cresceu e reunia até julho de 2021 72 participantes, entre fabricantes de tecido, marcas e varejistas. Outros 28 estão esperados para reforçar o projeto no segundo semestre.
Houve avanços, reconhecem os coordenadores do projeto. No entanto, ainda há uma longa jornada a percorrer até o jeans circular.
O Redesign Jeans faz balanço do progresso com base em questionário respondido pelos participantes.
São três conjuntos de base, agregam cerca de dez questões. Tratam de ‘Jeans are used more’; ‘Jeans are made to be made again’; e ‘Jeans are made from safe and recycle ou renewable inputs’.
Em tradução livre seria algo como: jeans feito para durar mais; jeans feito para ser reciclado; e jeans feito a partir de fontes seguras, recicladas ou renováveis.
Das 72 empresas, apenas dez (15%) informaram o investimento realizado no âmbito do Redesign Jeans. Agrupado, o investimento soma US$14,5 milhões aplicados em dois anos.
RESULTADOS
Questões como durar mais que 30 lavagens domésticas representam condição que a maioria dos que aderiram ao projeto atendeu sem problema.
Mais da metade incluiu algum tipo de material reciclado no jeans que fabrica.
95% eliminaram permanganato de potássio, uso de pedras e jato de areia nos processos de lavanderia.
65% das marcas retiraram totalmente os rebites metálicos das calças, de modo a facilitar a reciclagem dos jeans.
Dessas, 90% substituíram os rebites por tachas, costura reforçada ou técnicas de bordado.
DESAFIOS
O balanço admite que ainda há um cenário bastante desafiador pela frente e que exigirá colaboração entre todos os elos da cadeia de valor do jeans: fábricas de tecidos, fabricantes de roupas, fornecedores de aviamentos, marcas, lavanderias e recicladores.
A inovação é necessária tanto no estágio de projeto do produto como ao nível do sistema, ressalta o relatório do projeto.
O Redesign Jeans faz balanço dos desafios a enfrentar nos próximos ciclos de desenvolvimento.
Devolução. Depende de estruturas de logística para coletar produtos, fazer a triagem, a classificação e definir o destino.
Financiamento. Para coleta, triagem e reciclagem dos materiais em escala industrial. O apoio pode vir na forma de investimentos empresariais, bem como suporte de ações de fomento público.
Inovação. Exige investimento para apoiar a agenda de inovação de design, por indivíduo, organizações e mediante parcerias ao longo da cadeia de valor.
Algodão orgânico. Todos apontam para a realidade de baixos volumes de produção; preços altos da fibra e para obter certificação.
Rastreabilidade de roupas. Uso de tecnologia para seguir e rastrear roupas com finalidade de reutilização ou reciclagem ainda é limitado.
11% das marcas e fabricantes de roupas usam tecnologia de rastreabilidade de materiais, como QR Code e etiquetas RFID.
METAIS
33% das empresas do projeto relatam que conseguiram eliminar o uso de metais galvanizados nos aviamentos. Alguns recorreram ao uso de metal bruto. Outros relataram o uso de processos de galvanização. Mas que esse é, sem dúvida, um dos critérios mais difíceis de alcançar.
“Embora existam alternativas para zíperes, rebites e botões que evitam o processo convencional de galvanoplastia, os participantes notaram que essas opções são difíceis de obter, são caras e nem sempre atendem aos requisitos de estilo”, descreve o relatório.
Zíperes. Devem poder ser removidos sem perder o tecido durante a desmontagem, de modo a facilitar a reutilização ou reciclagem.
Botões desmontáveis. Tem opções disponíveis no mercado. Contudo, as empresas alegam que a oferta de estilo é limitada ou são ainda muito caras.
32% das marcas usaram botões que podem ser desmontados, sem a necessidade de cortar tecido. No entanto, muitas relataram pagar mais pelos componentes que são fáceis de desmontar. Além disso, relatam que precisam de mão-de-obra intensiva para a tarefa de remover botões e outros componentes. Isso configura barreira para dar escala industrial à iniciativa.
13% dizem que estão em busca de botões removíveis. Mas que não incorporaram o componente a seus produtos. Relataram os mesmos problemas das marcas que já usam e acrescentam que boa parte dos componentes não atende aos requisitos de durabilidade para roupas.