Sistema brasileiro de rastreabilidade da cadeia do algodão do campo ao varejo abrirá a novas empresas.

O piloto do Programa SouABR, o primeiro sistema brasileiro de rastreabilidade digital da cadeia do algodão da semente ao varejo, terminará em dezembro. A partir de janeiro de 2023, a Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão), que controla todo o programa, começa a expandir a rastreabilidade da cadeia habilitando mais empresas.
Hoje 11 empresas participam do projeto-piloto. Formam o arranjo industrial de Reserva e Renner,
a Fio Puro, a Incofios, a Vicunha, a RenauxView, a Dalila Têxtil, a By Cotton, a Ease, a EGM e a Lavinorte.“Juntamos com Renner e Reserva porque aceitaram o convite para participar da construção do piloto de rastreabilidade da cadeia do algodão. Com exclusividade. Também não poderia ser com muitas porque é um sistema complexo”, explicou ao GBLjeans, Júlio Busato, presidente da Abrapa.
Para acompanhar o ciclo desde a lavoura, o Brasil usa a tecnologia blockchain, que autentica cada etapa de produção em registro único e inviolável que, portanto, não pode ser alterado.
“É o primeiro projeto de rastreabilidade do algodão de ponta a ponta em nível mundial. Os americanos e os australianos estão correndo, mas nós largamos na frente”, afirma Busato.
PILOTO
O sistema de rastreabilidade digital SouABR foi anunciado em outubro de 2021 quando a Reserva lançou a primeira camiseta rastreável. A partir da leitura de QR Code colocado em tag na peça, o consumidor pelo celular acompanha todo o percurso associado àquela roupa com a garantia de que na produção só foi empregado algodão certificado ABR.
O QR Code mostra qual fazenda certificada que produziu o algodão, conta a história do produtor, mostra fotos e localização por satélite com imagem exibida pelo Google. Faz o mesmo com a fiação; com a tecelagem (ou malharia); e com a confecção.
Conforme Manami Kawagushi Torres, gestora de relacionamento institucional do movimento Sou de Algodão, primeiro parceiro a fazer lançamento, a Reserva ainda tem mais dois produtos rastreáveis para anunciar: um modelo de camisa e outro de jeans.
As varejistas Renner e Youcom, controladas pela mesma companhia, optaram pelo lançamento de jeans feminino rastreável. No final de maio, a Renner lançou três modelos de calça jeans. Já a Youcom lançou dois modelos de calça jeans na segunda quinzena de junho. Foram produzidos com denim da Vicunha e confeccionados pela Ease.
EXPANSÃO
Para escalar o Programa SouABR, a seleção passará pelas marcas que aderiram ao Movimento Sou de Algodão. Criada em 2016, a iniciativa de estímulo de uso têxtil do algodão tem praticamente dobrado as adesões ano a ano. Eram 390 marcas em 2020, passaram para 720 em 2021 e até junho de 2022 o movimento comemorou mil marcas.
A regra para o produto ser rastreável exige que a composição dele contenha pelo menos 70% de algodão, sendo que 100% do algodão previsto tem que ser certificado ABR, explica Manami Kawagushi.
Ela considera que seja mais fácil começar a expansão pelas marcas, que se encarregariam de envolver seus arranjos industriais para integração dos dados. Para compor o agrupamento, os fornecedores industriais devem atender exigências de habilitação por parte da Abrapa para integração digital dos dados e tratamento das informações dentro do sistema de rastreabilidade.
A Abrapa já conta com um sistema de rastreabilidade desde a semente escolhida pela fazenda até as beneficiadoras, cujas informações estão integradas com a certificação ABR, de Algodão Brasileiro Responsável. O Programa SouABR representa um avanço de rastreabilidade para mais elos da cadeia.
“O fardo chega na fiação. Tem que passar o leitor pelo código de barras e isso já diz ao sistema todas as informações daquele fardo, que registra em blockchain e ninguém mais muda. Na tecelagem, só aquele fio pode ser usado para fazer o tecido. Não pode misturar com outro. A confecção costura com aquele tecido. Tudo migra para registro no blockchain”, resume Busato.
Qualquer alteração nesses parâmetros, e o produto deixa de ser rastreável, ressalta Manami. “Esse não é um programa declaratório. Mas de rastreabilidade física”, acrescenta a gestora. Assim, para participar do programa SouABR não dá para a fiação misturar algodão certificado ABR com outro que não seja certificado. Nem a tecelagem misturar fios de algodão certificado com outros que não sejam. Ou mesmo a confecção produzir as peças rastreáveis com tecido não certificado.
foto: divulgação (Lojas Renner)