Contrabando, pirataria e roubos de cargas abastecem um mercado paralelo milionário, mostra estudo inédito realizado pela Fiesp com nove setores.
O mercado ilícito de roupas movimentou pelo menos R$ 616,05 milhões, apenas em São Paulo, em 2015. Desse total, 86,4% são mercadorias que chegam a São Paulo vindas de fora do Brasil, sobretudo da China e do Paraguai. A origem desses bens passa pelos crimes de contrabando, pirataria, descaminho, roubos de carga, entre outros. Além da perda de receita, as empresas alvos de crimes como contrabando e pirataria acumulam prejuízo pela desvalorização de suas marcas.
A análise de perdas com o crime no setor de vestuário para a indústria paulista faz parte da primeira edição do Anuário de Mercados Ilícitos Transnacionais em São Paulo, desenvolvido pelo departamento de segurança da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) concentrando as análises em nove setores: além de roupas, inclui alimentos, automotivo, brinquedos, eletrônicos, higiene, medicamentos, químicos e tabaco. O valor do mercado ilícito de vestuário representa 3,3% das perdas estimadas para a indústria paulista como um todo.
Segundo a publicação, em 2015, a produção ilícita está estimada em R$ 13,26 bilhões, praticamente o mesmo valor apurado em 2014 (R$ 13,24 bilhões). Mas, em cinco anos dobrou o valor, aponta Ricardo Lerner, vice-presidente da Fiesp. Em 2010, eram R$ 6,71 bilhões. A Fiesp chegou a esse valor usando dados oficiais apurados junto à Receita Federal do estado e com a polícia, tendo por base mercadorias confiscadas. “Por isso, digo que esses números são bem conservadores porque só temos os casos confiscados. O mercado é maior”, afirma o dirigente.
As três principais perdas e que estão nos setores de tabaco (R$ 4,35 bilhões), automotivo (R$ 3,49 bilhões) e de eletrônicos (R$ 1,47 bilhões). Na avaliação de Lerner, os incentivos para a existência e a manutenção de um mercado ilícito tão extenso são a combinação de penas brandas e lucro alto.
PRÓXIMAS FASES
O Anuário serve para jogar luz a um problema crescente, avalia a Fiesp. A intenção é evoluir com esse trabalho. Ao longo do ano, a expectativa é lançar relatórios trimestrais com análises mais aprofundadas sobre cada setor, explica João Henrique Martins, consultor da Fiesp para esse trabalho, prevendo o primeiro relatório setorial até o final do ano. No de vestuário, por exemplo, a intenção é conseguir verificar a composição do mercado ilícito, se movimenta mais produtos populares ou de luxo, por exemplo, diz o consultor.
As próximas edições do estudo também deverão contemplar o prejuízo causado com a produção das fábricas ilegais nos nove setores.
VITIMIZAÇÃO DA INDÚSTRIA
O Anuário contempla ainda os resultados da primeira pesquisa em torno dos reflexos da violência cometida contra a indústria. Com amostra de 345 empresas de diferentes portes, a pesquisa constatou que 46,7% das indústrias do estado foram vítimas de algum tipo de crime, em sua sede ou no transporte de produtos, nos últimos 12 meses. E quase 29% delas desistiram de ações empreendedoras, como expansão ou lançamento de produtos, em função da criminalidade.
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