Instituto C&A vai apoiar projetos sustentáveis na moda

Organização vai investir em iniciativas sociais por toda a cadeia de fornecimento têxtil e de algodão orgânico no Brasil.

Ao comemorar 25 anos de atuação no Brasil, o Instituto C&A anunciou oficialmente o novo posicionamento da organização direcionado à moda sustentável, em um evento, em São Paulo. Até este ano, o instituto focou em projetos educacionais para crianças e adolescentes com o apoio a 2 mil projetos que tiveram impacto sobre 1 milhão de pessoas e investimentos de US$ 125 milhões. Alinhada agora à C&A Foundation, a organização passa a incorporar as diretrizes globais da companhia que priorizam projetos sociais relacionados à moda, explica a diretora executiva da C&A, Giuliana Ortega.

A meta da C&A é chegar a 2020 tendo em suas lojas produtos confeccionados com 100% de algodão sustentável, terminando 2016 com 15%. “Vamos trabalhar nos próximos quatro anos junto à cadeia de fornecimento do algodão, espelhando o que fazemos há dez anos no monitoramento das confecções, com auditorias e auxílio na gestão dos negócios e processos”, afirma o presidente da C&A, Paulo Correa.

Em conformidade com as metas da C&A Foundation, o braço brasileiro vai focar em três eixos: incentivo ao algodão sustentável, combate ao trabalho forçado e infantil, e promover melhores práticas nas condições de trabalho em toda a cadeia têxtil.

PESQUISA SOBRE MODELO DE NEGÓCIO
O Instituto C&A está patrocinando uma pesquisa que deve ser concluída até o final do ano, sobre o modelo de negócio têxtil no país. Trabalha com dados que o Brasil conta com cerca de 1,5 milhão de empresas, sendo 70% formada por pequenas e médias organizações, empregando 75% dos trabalhadores do sexo feminino. Apenas 20% do mercado é dominado pelas grandes marcas, segundo a ABVTex (Associação Brasileira do Varejo Têxtil). “Vamos focar nesses 80% de pequenas e médias empresas pulverizadas que têm mais riscos de informalidade e abuso nos direitos humanos”, diz Giuliana.

ALGODÃO CERTIFICADO
No incentivo ao algodão sustentável, o Instituto C&A quer acompanhar os produtores de matéria prima certificada com o selo ABR – Algodão Brasileiro Responsável e licenciado BCI – Better Cotton Initiative. Essa certificação representa uma etapa anterior ao algodão orgânico que usa menos água e não aplica pesticidas e que representa apenas 1% de toda a produção mundial. No Brasil, representa ainda menos: 0,0002%, ou seja, quase nada, informa o pesquisador da Embrapa, Fábio Aquino de Albuquerque. “Tem um grande potencial de crescimento se tiver apoio dos compradores da cadeia têxtil”, afirma.

A plantação de algodão orgânico no semiárido do nordeste começou de forma mais organizada em 1992 com produtores ligados à agricultura familiar e que começaram a ver os benefícios na saúde da família. “Essa iniciativa cresceu e ainda está se organizando para que seja integrada com a produção de alimentos de subsistência”, explica Albuquerque. Nos últimos quatro anos, toda a plantação de algodão na região – que inclui os estados do Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte e Paraíba – sofreu retração pela seca que assola a região.

CONDIÇÕES DE TRABALHO
A C&A Foundation trabalha principalmente com produtores indianos de algodão e tem diversos exemplos de transformação da vida dessas pessoas após o cultivo sustentável. No Brasil a atuação do Instituto C&A, segundo Giuliana, começou com projetos de apoio a imigrantes que chegam para trabalhar em confecções e encontraram condições análogas ao trabalho escravo, fruto de uma parceria com o Cami e Missão Paz, duas instituições de apoio a essa população em São Paulo. Durante o evento, foi mostrada a história de Jovita, uma boliviana que mudou radicalmente sua condição de trabalho ao participar do projeto “Roda de Conversa”, apoiado pelo Instituto. Jovita regularizou seus documentos e investiu em máquinas de costura para trabalhar em casa, abrindo um pequeno negócio.