Produtos sustentáveis: preço desarma as boas intenções.

Algodão é exemplo desse desafio da indústria, que enfrenta cultura ainda incipiente no Brasil em cultivo orgânico (apenas 0,1%), mas o certificado está em 70% das lavouras do país.

Todo cidadão quer respeitar o meio ambiente e apoiar produtos sustentáveis. Porém, quando chega a uma loja, o que importa ao consumidor é o preço e vão-se embora as boas intenções. Esse desafio está sendo enfrentado pela indústria da moda em todo o mundo na busca pelos chamados produtos orgânicos, do algodão ao produto final, com processos certificados. Fazer um “detox” no armário, consumindo apenas peças produzidas de forma orgânica, começa a ser viável na Europa e Estados Unidos, onde algumas marcas já abraçaram a causa. O Brasil está dando seus primeiros passos.

O algodão orgânico – que não recebe produtos químicos ou pesticidas, é plantado e colhido de forma não mecânica – representa menos de 1% da cultura mundial. No Brasil, segundo Fábio Albuquerque, pesquisador da Embrapa, apenas 0,1% do algodão é orgânico ou agroecológico certificado, cultivado nos estados da Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí. “Esse tipo de cultura é novo no país, começando em 1992 e disseminado em 2005 com o surgimento da demanda por projetos na Embrapa”, afirma o pesquisador. É grande o potencial para que essa cultura cresça no país quando combinada com culturas de subsistência como milho e feijão, representando 30% da área. “O orgânico e o sustentável brigam com o algodão transgênico que também é recente no Brasil e é comercialmente mais viável”, afirma Albuquerque.

As iniciativas de algodão sustentável no país, não inteiramente orgânico, tem o apoio da Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão) com o selo ABR (Algodão Brasileiro Responsável), parceira da entidade internacional BCI (Better Cotton Iniciative), cuja certificação permite a exportação. Hoje a produção brasileira total de algodão é de 1,5 milhão de toneladas, sendo que a capacidade total é de 2 milhões, redução atribuída à ociosidade do campo com a queda no valor das commodities.

De acordo com dados da Abrapa, 70% da produção nacional é certificada. “O algodão sustentável é mais inclusivo porque aceita diferentes formas de produção, desenvolve melhoria contínua do solo, insumos, uso da água e relações de trabalho, e é licenciado pelo BCI para exportação”, explica a consultora para o agronegócio Andrea Aragon.

Uma empresa de moda que tem investido no conceito é a varejista C&A cuja estratégia mundial é contar com 100% de produtos orgânicos em suas lojas até 2020. No Brasil, onde a marca está há 40 anos, essa iniciativa começou em 2006 com a montagem de uma cadeia de fornecedores alinhados com o conceito, o lançamento de uma linha de roupas infantis com recursos de segurança e, em 2011, peças para bebês com algodão orgânico, ressalta o CEO da C&A no Brasil, Paulo Correa. Outra iniciativa, neste ano, foi o uso de denim sustentável BioFashion em uma linha de calças para adultos. O executivo acredita que 60% da linha da C&A usa algodão certificado pelo BCI. “Na cadeia têxtil fizemos alianças com quatro fiações e 12 fornecedores de peças acabadas e a tendência é abarcar toda o ciclo de produção”, aponta. Os executivos fizeram parte de uma mesa redonda sobre sustentabilidade na moda e algodão orgânico promovida pela C&A no último dia 18, em São Paulo.