A relação da moda e Olimpíadas

A relação da moda e olimpíadas: uma conversa de séculos!

Os jogos olímpicos de 2021 serão de mais histórias de superação do que de recordes.

A relação da moda e olimpíadas: uma conversa de séculos!
Uniforme do Canadá para as Olimpíadas. Da esquerda para direita: Sarah Douglas (vela) usando o uniforme de pódio; Kylie Masse (natação) usando o uniforme para a cerimônica de encerramento; e Pierce Lepage (atletismo) com o uniforme usado na abertura dos jogos (foto: divulgação Newswire/Team Canada).

Enfim chegamos aos jogos olímpicos, um evento que já começa marcado por superação mental, física para organizadores e atletas que tiveram que adaptar as condições impostas pela pandemia. Esta provavelmente será a Olimpíada de mais histórias de superação do que de recordes e performance. A relação da moda com as olimpíadas é uma conversa de séculos.

Fato ou lenda, o curioso é que a primeira disputa olímpica, do que hoje seria próximo ao atletismo, foi vencida por Corobeu, cidadão de Olímpia, que correu despido por crer que assim teria melhor desempenho. O desafio da performance com menor ou melhor impacto por meio da roupa nasceu com a própria competição e este desafio vem sendo o propulsor de inovação tecnológica no vestuário atlético se expandindo para outros segmentos.

A moda absorve todos estes movimentos e transforma em estilo, é o caso da roupa para a prática do skate, antes um esporte marginalizado e agora oficialmente olímpico, com isso ela ganha maior evidência na moda por meio das marcas sportswear.

A demanda por peças confortáveis, levaram os skatistas a usar o moletom, logo no final da década de 70, quando Norma Kamali estilista nova-iorquina, começou a fazer roupas com o tecido, já usado desde a década de 30 para aquecer os trabalhadores de frigoríficos de Nova York, porém com modelagem e design mais atual para a época.

O moletom que oferecia conforto, mas não resistência, passa a dar lugar as calças cargo e jeans pesados bem amplos, já que não existia jeans stretch e nada poderia impedir seus movimentos. Logo, foi redefinido a cara do esporte de rua.

MODA E OLIMPÍADAS

É obvio que isso foi absorvido pela moda que aos poucos passou a oferecer cada vez mais atributos necessários de resistência, conforto térmico e flexibilidade à detalhes de costura, entre outros.

A construção dessa estética acontece nos espaços olímpicos e esportivos, mas também nas academias e ruas que revelam os atletas urbanos com seus corpos normais, seus sobrepesos, ou seus músculos conquistados com muita disciplina. O esporte tomou nossas vidas numa busca pelo equilíbrio, saúde e bem-estar; e a moda abraça seu papel nessa empreitada.

Uma pesquisa realizada pela agência Grey mostrou quatro estilos predominantes de beleza, o esportivo está entre eles e representa para os adeptos o autocontrole, num mundo que pouco podemos controlar. O esporte é mais que uma onda, é um norteador permanente que tem a ver com estilo de vida e com valores comportamentais que evolui e avança para as principais marcas.

Cada vez mais nossas identidades são múltiplas, o belo é mais do que um estado físico — desconstruir o belo, o corpo escultural que tanto perseguimos, é um desafio nada fácil. Mas a moda e as Olimpíadas promete ser palco nesta edição de nova inclusão de atletas como Ana Patrícia Ramos, jogadora de vôlei de praia, que sofria bullying quando criança pelo seu tamanho e na equipe era vista com limitação pelos seus 1m94cm de altura. Ana distingue-se da barriga tanquinho e do corpo de beleza simétrica impecável idealizada, mas despontou entre as atletas, sendo a primeira a garantir a vaga nas olimpíadas de Tóquio.

POSITIVIDADE CORPORAL

Por outro lado, a atleta amadora Ellen Valias (@atleta_de_peso) luta para conscientizar a sociedade de que é possível ser gorda e praticar esportes. Ellen não se profissionalizou por não se “enquadrar” no padrão imposto. Hoje ela é patrocinada pela Adidas, uma marca esportiva que entendeu que o corpo gordo tem o direito de se movimentar e que como outras marcas vêm atendendo estas demandas que, além de gerar bem-estar, geram grandes negócios e movimentam toda a cadeia.

A indústria têxtil também corre atrás da alta performance. Hoje vemos tecidos com quase 100% de power stretch, se adaptando aos mais diversos corpos e reproduzindo as roupas esportivas, seja com aspectos do moletom ou leggings, permitindo que a roupa caia como uma luva, inclusive nos tamanhos ofertados em PMG, como na moda esportiva.

Entre as mídias e atletas dando voz ao diverso, o movimento da positividade corporal vem crescendo e atingindo o mainstream, marcas American Eagle, Nike e Torrid ofertando tamanhos estendidos.

A rede americana Athleta, do grupo Gap treinará todos os funcionários de suas lojas com a certificação bodySTRONG® para ensinar linguagem corporal positiva além de um grande plano para clientes plus size, com oferta de tamanhos em todas as categorias até 2022, o que representará 70% da oferta da marca sem diferenciar as linhas convencionais de plus size.

Enquanto isso, os atletas americanos usarão Skims, a marca de shapewear lançado por Kim Kardashian em 2019, por baixo de sua Ralph Lauren e Nike. Com mensagem corporal e racialmente inclusiva, a marca está firmando sua reivindicação como a abordagem americana da próxima geração.

DESAFIO NA PAUTA TÊXTIL

E falando em skims, retomo à Corobeu, e a relação da moda e as Olimpíadas. Séculos se passaram e o desafio dele ainda está na pauta do têxtil, desenvolver tecidos que façam as pessoas sentirem-se tão leves e confortáveis como em suas próprias peles, independente da forma e contexto, numa espécie de simbiose.

A moda vai além da necessidade de vestir construindo entre performance e identidades, entre o corpo físico e emocional, sendo grande condutora da transformação e acolhimento do diverso.

E você ainda acha que a moda é apenas um jogo estético ou sistema poderoso que mobiliza massa como os jogos olímpicos?

*Artigo escrito por Sueli Pereira. Ela tem mais de 20 anos de experiência no setor têxtil, formada em jornalismo, história da moda e gestão empresarial, e uma estudiosa do comportamento humano.