Passarela não escolhe idade

Alunos com mais de 65 anos, freqüentadores da oficina de moda do CRECI, desfilaram coleção usando pano de guarda-chuvas velhos na semana de moda da FPA

Os alunos da oficina de moda do Creci (Centro de Referência da Cidadania do Idoso) desfilaram coleção desenvolvida por eles mesmos, a convite da semana de moda promovida pela FPA (Faculdade Paulista de Artes) como parte das atividades acadêmicas. Para o evento, eles criaram 20 looks com tecido retirado de guarda-chuvas velhos ou quebrados.



O grupo de moda Roda da Fortuna conta com 25 ´estilistas´, todos acima dos 65 anos de idade, e é coordenado pelo produtor de moda e também professor da FPA, Fabiano Menna. Como tema da coleção, eles escolheram a frase E é sempre a chuva nos desertos, sem guarda-chuva, retirada do poema Composição, de Carlos Drummond de Andrade, em referência ao clima chuvoso da cidade de São Paulo.



O material utilizado foi coletado pelo grupo. “Eles pegam material nas ruas, levam para casa, fazem todo o processo de higienização, passam e trazem para as aulas”, explica o professor. Para deixar clara a origem do tecido, durante o desfile alguns modelos seguraram apenas as armações dos guarda chuvas. Cada aluno desenvolveu a própria peça. “Nessa coleção, eles trabalharam volumes, sobreposições e formas geométricas”, explica Menna.



Esta não é a primeira coleção feita pelo grupo criado há cinco anos. Já houve trabalhos inspirados na artista plástica mexicana Frida Kahlo; no também artista plástico, Arthur Bispo do Rosário; e no escritor Nelson Rodrigues. O próximo desfile será em dezembro, e os alunos estão trabalhando em looks feitos de papel reciclado.



Fazer roupas de materiais reutilizáveis faz parte da proposta de sustentabilidade do grupo. O Centro de Referência da Cidadania do Idoso está ligado à Secretaria de Assistência Social da prefeitura de São Paulo e oferece diversas oficinas para pessoas com mais de 65 anos. Entre elas está o curso de moda, realizado todas as quartas-feiras, das nove às 11 horas da manhã. Os alunos podem frequentar quantas aulas quiserem, ressalta o coordenador.



Eles têm aulas práticas, teóricas, laboratório de criação e pesquisa, mas, segundo o professor, preferem a técnica de moulagem, pela qual podem montar as roupas diretamente no corpo. Menna explica que auxilia na escolha do tema e na pesquisa, mas deixa que os seus discípulos desenvolvam e costurem as peças. “Eles são incríveis, são ousados e não têm preconceito”, afirma o professor sobre o grupo que conta com homens e mulheres, todas as classes sociais.

*com reportagem de Isadora Mota

fotos: divulgação