Químicas buscam alternativas para segurar aumento de preço

A pausa na produção chinesa e a valorização do dólar estão entre os fatores apontados como responsáveis pelo encarecimento dos produtos vendidos no Brasil

A desvalorização do real frente ao dólar, como um dos efeitos cascata provocados pela aguda crise que atingiu os Estados Unidos em setembro, pressionou ainda mais o custo da indústria química que fornece para lavanderias industriais de jeans no Brasil. A turbulência da economia global representa, contudo, um ingrediente a mais de uma série de fatores que tem elevado os preços dos produtos químicos desde março. E embora a volatilidade do câmbio ainda seja motivo de preocupação, as empresas também avaliam que a contenção da demanda no mercado internacional possa aliviar em parte a pressão sobre os preços no mercado interno.

 

De acordo com os empresários, os aumentos tiveram início em meados de março. No entanto, foi a realização dos Jogos Olímpicos em Pequim, na China, que provocou a maior onda de aumentos. Como a indústria da China diminuiu o ritmo industrial de maneira a reduzir os níveis de poluição da cidade para a disputa olímpica, acabou faltando matéria-prima. O metabissulfito, por exemplo, usado na neutralização de permanganato e de cloro, foi um dos produtos que teve maior aumento de preço.

 

“As fábricas chinesas pararam de produzir durante praticamente três meses, para despoluir o ambiente para a Olimpíada. Sendo um dos maiores fornecedores de matéria-prima química, principalmente na área de corantes, essa pausa na produção acabou gerando uma carência de insumos para todo o mercado, e isso fez com que os preços começassem a aumentar”, lembra Celso Comisso, diretor comercial da Splashcor. De acordo com ele, a demanda já era grande quando houve a retomada da produção, o que fez com que o preço dos insumos chineses aumentassem ainda mais.

 

A valorização do dólar provocou o aumento dos preços de uma indústria com forte componente de insumos importados. “Grande parte da matéria-prima tem preço calculado em dólar. Portanto, se aumenta o valor do dólar, o valor dos insumos vai aumentar, também”, explica Norberto Canelada, sócio-proprietário da Texpal.

 

Com tantos aumentos o mercado desacelerou o consumo, fato que pode, agora, ser o motivo para a queda de preços no setor. “Além da carência por matérias-primas e o aumento do dólar, houve quem tenha aumentado seus preços sem necessidade, para acompanhando o mercado para ter mais lucro. Com a queda do consumo, as empresas são forçadas a baixar seus preços para não ter prejuízo, e é isso que começa a acontecer agora. Até o fim do ano a estimativa é de que a maioria dos produtos, inclusive os importados, tenham queda de 12,5%”, comenta Eduardo Fernandes, gerente de vendas da AGS.

 

A própria alta do barril do petróleo e a necessidade de buscar combustíveis gerados por fontes renováveis, como o biodiesel, agravaram o aperto da indústria química. “Os derivados do sebo, por exemplo, que eram considerados matéria-prima de segunda classe, passaram a faltar no mercado, pois, começaram a ser usados como matéria-prima de combustível, na composição do biodiesel. Com isso, o preço do insumo aumentou bastante, assim como os amaciantes, que têm o sebo na composição”, explica Fernandes.

 

A queda de preço do barril de petróleo que se observa agora no mercado, entretanto, não influi nos valores pagos pelo setor químico. “O que é importante para o mercado químico são os subprodutos do petróleo, portanto, não faz muita diferença se o valor bruto dele baixou, pois, o preço para se tirar o que precisamos do produto não muda”, explica Emanuel Santana, coordenador do setor de lavanderias industriais da Clariant.

 

Embora os primeiros sintomas de aumento tenham aparecido no mercado já no primeiro semestre, algumas empresas só os sentiram nos últimos meses, quando foram obrigadas fazer o repasse desses aumentos para seus clientes. “No segundo semestre a situação se acentuou, e tentamos passar para o cliente o mínimo possível desses aumentos. Como alternativa, fizemos uma média entre as produções internacionais a as nacionais, que são mais baratas, para fixar o preço dos produtos”, explica Santana, da Clariant.

 

“Isso está acontecendo em todo o mercado, e desde outubro a valorização do dólar foi muito rápida. Quem trabalha com estoques conseguiu segurar o aumento para os clientes por algum tempo, mas quem recebia seus insumos por meio de importações teve que repassar todo esse custo extra”, comenta Wenerson Barbosa, responsável pelo setor de lavanderias da Lambra. De acordo com ele, a diferença no preço dos insumos varia de 8% a 30%, sendo os corantes os produtos de maior aumento.

 

 

Prevendo a estabilização do mercado, também, pela queda no consumo, André Torraca, supervisor de vendas da Pulcra, conta que a indústria agora busca formas mais econômicas e otimizadas de produção. “Para que não seja repassado o valor total desse aumento para os clientes economizamos energia, otimizamos a produção com lotes maiores e, agora, aguardamos os resultados para analisar quais outras medidas tomar”, comenta.