Agreste pernambucano: os desafios da inovação.

Agreste pernambucano: os desafios da inovação no jeans.

Campus da universidade dispõe de projetos abertos mas com baixa procura pelas empresas.

Agreste pernambucano: os desafios da inovação no jeans.

Embora o Agreste pernambucano responda por quase 20% da produção brasileira de jeans, de acordo com dados divulgados pelo Febratex Group, a região enfrenta um gap de inovação, a exemplo do que ocorre em outros polos têxteis do país. Nesse caso, não por falta de ferramentas ou recursos. Atualmente o campus local da Universidade Federal de Pernambuco está envolvido em, pelo menos, cinco projetos destinados a transferir conhecimento para as empresas e que enfrentam baixa procura.

O desafio de aproximar a indústria da academia de modo a explorar tecnologias e ferramentas para modernizar a produção sobre bases sustentáveis foi o tema da palestra do professor doutor Gilson Lima da Silva, vice-diretor do Centro Acadêmico do Agreste, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Ele foi um dos convidados do Denim Eco Talk, comandado pelo GBLjeans para falar sobre sustentabilidade no jeans, dentro da grade de palestras da Agreste Tex, feira de tecnologias para as indústrias têxtil e de confecção, realizada de 29 de março a 1º de abril, em Caruaru, a maior cidade do Agreste pernambucano.

TECNOLOGIAS DISPONÍVEIS

Agreste pernambucano: os desafios da inovação no jeans.

Lima da Silva abordou as oito linhas de pesquisa desenvolvidas no âmbito do campus da Universidade Federal de Pernambuco em Caruaru.

Entre os trabalhos, ele destacou as pesquisas na área de química ambiental, dois projetos procuram oferecer alternativa diferenciada para as indústrias do polo de confecção no tratamento de efluentes. Um dos recursos empregados é a energia solar, abundante na região, destacou. “A gente tenta desenvolver uma tecnologia de baixo custo, eficiente, temos conseguido bons resultados em laboratório, como 95% de remoção dos corantes. Isso cria condições muito grandes para as empresas fazerem reúso de água”, destacou.

Outra ferramente que o campus trabalha é ACV, de análise de ciclo de vida de produto e de avaliação de impacto ambiental. É uma forma preventiva de atuar, cuja análise pode levar a mudanças no processo produtivo para diminuir os efeitos nocivos.

Mais recentemente o campus da universidade federal instalado no Agreste pernambucano ingressou na área de inovação, na linha de indústria 4.0, de transformação digital. Desde 2018 criou o grupo G5 Ambiental. “É uma mudança de paradigma, de modo a derrubar os muros da academia e dialogar com a indústria”, explica. Em especial dom o APL de confecções que é a realidade econômica da região.

Ouvindo os empresários o grupo mapeou em gestão ambiental as áreas que mais demandam inovação: gestão de resíduos, de efluentes, de água; análise de impactos ambientais; reúso e reciclagem; salubridade ambiental e ocupacional.

“A inovação passa por soluções simples, apesar dos problemas complexos”, enfatizou.

Dentro dos projetos de inovação, o campus obteve linhas de fomento pela Facepe (Fundação de Amparo a Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco) no montante de quase R$5 milhões, entre 2021 e 2023, destinado a projetos de universidades do estado que possam ajudar as empresas nessa transformação.

PERIGO DO GREENWASHING

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Já a estilista Thaísa Peralta, com pós-graduação em Negócios da Moda, e que desde 2019 pesquisa sobre sustentabilidade no jeans, abordou o valor de levar a produção a novos patamares. Ela destacou a necessidade de a cadeia combater o greenwashing, jogada enganosa de marketing para induzir clientes a acreditar que determinada empresa adota práticas sustentáveis quando isso não é inteiramente verdadeiro ou é simplesmente mentira.

Conforme o GBLjeans, podem servir de exemplos hipotéticos de greenwashing uma empresa com estação de tratamento de efluentes e ainda assim despejar resíduos tóxicos na fonte que abastece a unidade industrial. Ou uma marca que se vende sustentável e distorce indicadores. Ou um varejista com discurso de sustentabilidade mas que contrata parceiros industriais que subcontratam facções que usam mão-de-obra em condições que frontalmente desrespeitam as leis trabalhistas do país.

Na palestra, Thaísa recomenda aos estilistas que atuem como investigadores, questionando, buscando informações em fontes confiáveis e valorizando mais números que palavras.

“Procurar conteúdo de cada etapa, de como se faz, de onde vem, como é feito, o que é feito, se é biodegradável, qual o consumo de água, o que será feito com a peça depois que o cliente usar”, recomenda.