Moda não anda bem em sustentabilidade

Dois estudos recentes mostram que houve avanços, mas sem serem uniformes para todos os agentes líderes da cadeia

Durante o Fórum Econômico Mundial, realizado a semana passada em Davos, a Corporate Knights publicou seu ranking anual Global 100 Most Sustainable Corporations. Antes disso, o mercado conheceu a segunda edição do Benchmark Report para roupas e calçados, elaborado pela KnowTheChain. No primeiro, a novidade são três companhias de moda estarem entre as cem mais sustentáveis do mundo.

O conglomerado francês Kering, dono de grifes icônicas como Gucci, Balenciaga e Yves Saint Laurent, surpreendeu ao subir para o segundo lugar no ranking, somando score total de 81,55%. No ranking do ano passado, a Kering figurava no 47º lugar, com score de 66,8%, foi um salto e tanto. Em primeiro lugar em 2019 está a Chr. Hansen, com 82,99% de score, que não atua com o consumidor final. É um fabricante dinamarquês de biociência, que sustenta a maior parte da receita com a venda de insumos naturais para preservar alimentos, como derivados do leite.

Na moda, a lista atual das Global 100 Most Sustainable Corporations incluiu pela primeira vez a varejista espanhola Inditex que ocupa a 54ª posição, com score de 64,9%. A Adidas voltou ao ranking, em 84º lugar este ano, com score total de 54,2%.

A Corporate Knights avalia empresas que faturam mais de US$ 1 bilhão por ano, classificadas de acordo com o desempenho em critérios como percentual da receita obtido com a venda de ‘produtos limpos’; quanto a empresa reduziu no consumo de recursos naturais, como água, e evitou desperdícios; a diversidade de gêneros encontrada nos níveis de liderança; entre outras variáveis. A empresa de informações financeiras publica esse estudo há 15 anos.

FALTA CONTROLE SOBRE O TRABALHO NOS NÍVEIS PRIMÁRIOS DA CADEIA

A KnowTheChain é uma entidade criada da parceria entre a Humanity United, o Business & Human Rights Resource Center, a Sustainalytics e a Verité, que propõe o benchmarking como ferramenta para incentivar as empresas a adotarem padrões e práticas que protejam o trabalhador em toda a cadeia de fornecimento. Atua nas indústrias de roupas e calçados; alimentos e bebidas; TIC (Technology Information and Communications). Pela segunda vez, elaborou um relatório sobre o mercado da moda – o primeiro foi em 2016.

Na edição atual, avaliou 43 empresas, entre varejistas, marcas e conglomerados de grifes, que atuam nos segmentos de roupas, calçados e acessórios. A média desse grupo foi de 37 pontos para um total ideal de cem pontos, de forma que quanto mais próximo do cem, melhores são as práticas da empresa. Segundo o relatório, atingem uma pontuação alta as empresas que investem em políticas para lidar com os riscos associados ao recrutamento de trabalhadores e ao tratamento justo a eles garantido em todos os níveis de sua cadeia de suprimento global.

Adidas e Lululemon atingiram uma pontuação significativamente maior que os seus pares porque são ”as únicas empresas do grupo a divulgar evidências de que os trabalhadores abaixo do primeiro nível de suas cadeias de suprimentos têm acesso e utilizam seus mecanismos de reclamação”, afirma o relatório. A Adidas lidera a lista com 92/100. A Lululemon aparece em seguida com 89/100.

O relatório mostra a pontuação das 43 empresas analisadas. Os dez primeiros lugares são ocupados, além de Adidas e Lululemon, por Gap (75 pontos); Primark (72 pontos); Inditex (70 pontos); PVH Corp (69 pontos); H&M (65 pontos); VF Corp (64 pontos); Nike (63 pontos); e Hugo Boss (62 pontos).

O relatório enfatiza que a indústria da moda ainda convive com a exploração de mão-de-obra, sobretudo de migrantes e mulheres, à base da intimidação, da fraude e da coerção. E conclui que “a indústria precisa fazer muito mais para proteger os trabalhadores vulneráveis em todos os níveis das cadeias de suprimentos”.